terça-feira, 22 de outubro de 2013

No mundo das palavras

Começaram, na biblioteca da escola EBPALF, as sessões do Clube de Leitura e Escrita (às 4ªs feiras das 14.15h às 15.15h). Estes encontros têm sido marcados pela realização de sessões de leitura partilhada, reflexões acerca dos textos lidos e ainda por momentos de escrita criativa. Em particular, procura-se desmistificar algumas ideias preconcebidas acerca da categorização dos livros, do ato de ler e da forma como podemos usufruir desse prazer que o mesmo deve configurar.
Neste sentido, foi lida e alvo de reflexão, por exemplo, a obra de Isabel Minhós Martins, ilustrada por Bernardo Carvalho, O Mundo num Segundo, da editora Planeta Tangerina (2008), e que se, aparentemente, nos parece um livro extremamente infantil, não é, na realidade, apenas isso, mas um ponto de partida para uma reflexão acerca do tempo, da sua inexorável passagem e sobre as várias janelas que se abrem no mundo, em espaços e com pessoas diversas, sempre que o ponteiro de um qualquer relógio oscila… E como o tempo não para, é útil utilizá-lo das formas que nos proporcionam prazer, como a de ler um livro que nos encante, ainda que, por vezes, para que essa hora não peque (e não se perca) tenhamos de saltar páginas, ou não o acabemos, já que o poder encantatório das palavras é, antes de mais, princípio e fim de tudo isto a que chamamos literatura (enquanto campo artístico).
Foi no decurso destes pensamentos e perceções que, nos nossos encontros de quarta feira, abordámos o capítulo IV da obra Como um Romance de Daniel Pennac, Edições Asa, tendo sido, precisamente, explorados os direitos inalienáveis do leitor, afinal muito menos limitativos e ditatoriais do que aquilo que imaginávamos…
Mas, o tempo não para e há tanto por fazer -  a nossa vida corre a mil à hora e há tantas solicitações quando se está na adolescência: os afazeres da escola, os amigos, os pais, os/as namoradas/os, o PC, o FB, as revistas de moda, os jornais desportivos… Haverá, no entanto, também, tempo para os desabafos, mesmo que ninguém nos ouça, existirá sempre um papel onde poderemos registar o que sentimos e pensamos, como noutra das obras por nós abordada neste clube: Diário de Sofia & Cia aos 15 anos, de Luísa Ducla Soares.
Finalmente, e porque o mundo das palavras é um mundo onde tudo é possível e corrigível, certas obras podem ser um excelente ponto de partida para discutirmos e repensarmos problemáticas profundas, algumas dos quais afetam e minam a nossa sociedade tão desigual. Exemplo disso é a obra de George Orwel, O Triunfo dos Porcos, onde se observa, através da mestria do seu autor, questões tão sérias como a da justiça, da solidariedade, da liberdade, numa representação que nos remete para um universo fabulístico, mas nem por isso menos assertivo e por essa mesma razão um excelente ponto de partida para mais uma sessão deste nosso clube.
Terminando este nosso testemunho, e porque, como referimos, a leitura e a escrita andam de mãos dadas, nada como partir de tantas questões enunciadas para a produção de textos, operação que nos permite trocar de lugar com os mestres e sermos nós os senhores do mundo das palavras que é o nosso mundo e a maior das ferramentas que podemos usar para o construir e dominar.
Deixamos aqui, então, o produto criativo das alunas Joana Silva (nº6 do 8º E) e Verónica Filipe (nº 27 do 9º C) e marcamos encontro para a próxima 4ª feira. Até lá, divirtam-se com as palavras e usem-nas para, antes de mais, serem felizes!

Todos mandam em mim:
os meus pais, professores e
até as palavras,
aquela palavra odiosa: !!
Estou no computador
e a minha mãe diz:
-vai pôr a mesa!
E eu respondo:
-só um minuto…
E lá vem aquela horrível palavra: !!
(Para mim essa palavra deixava de existir.)


Joana Silva e Verónica Filipe

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