No mundo das palavras
Começaram, na biblioteca da escola EBPALF, as sessões do Clube
de Leitura e Escrita (às 4ªs feiras das 14.15h às 15.15h). Estes
encontros têm sido marcados pela realização de sessões de leitura partilhada,
reflexões acerca dos textos lidos e ainda por momentos de escrita criativa. Em particular,
procura-se desmistificar algumas ideias preconcebidas acerca da categorização
dos livros, do ato de ler e da forma como podemos usufruir desse prazer que o
mesmo deve configurar.
Neste sentido, foi lida e alvo de reflexão, por exemplo, a
obra de Isabel Minhós Martins, ilustrada por Bernardo Carvalho, O Mundo num Segundo, da editora Planeta
Tangerina (2008), e que se, aparentemente, nos parece um livro extremamente
infantil, não é, na realidade, apenas isso, mas um ponto de partida para uma
reflexão acerca do tempo, da sua inexorável passagem e sobre as várias janelas
que se abrem no mundo, em espaços e com pessoas diversas, sempre que o ponteiro
de um qualquer relógio oscila… E como o tempo não para, é útil utilizá-lo das
formas que nos proporcionam prazer, como a de ler um livro que nos encante, ainda
que, por vezes, para que essa hora não peque
(e não se perca) tenhamos de saltar páginas, ou não o acabemos, já que o poder
encantatório das palavras é, antes de mais, princípio e fim de tudo isto a que
chamamos literatura (enquanto campo artístico).
Foi no decurso destes pensamentos e perceções que, nos nossos
encontros de quarta feira, abordámos o capítulo IV da obra Como um Romance de Daniel Pennac, Edições Asa, tendo sido,
precisamente, explorados os direitos inalienáveis
do leitor, afinal muito menos limitativos e ditatoriais do que aquilo que
imaginávamos…
Mas, o tempo não para e há tanto por fazer - a nossa vida corre a mil à hora e há tantas
solicitações quando se está na adolescência: os afazeres da escola, os amigos,
os pais, os/as namoradas/os, o PC, o FB, as revistas de moda, os jornais
desportivos… Haverá, no entanto, também, tempo para os desabafos, mesmo que
ninguém nos ouça, existirá sempre um papel onde poderemos registar o que
sentimos e pensamos, como noutra das obras por nós abordada neste clube: Diário de Sofia & Cia aos 15 anos,
de Luísa Ducla Soares.
Finalmente, e porque o mundo das palavras é um mundo onde
tudo é possível e corrigível, certas obras podem ser um excelente ponto de
partida para discutirmos e repensarmos problemáticas profundas, algumas dos
quais afetam e minam a nossa sociedade tão desigual. Exemplo disso é a obra de
George Orwel, O Triunfo dos Porcos,
onde se observa, através da mestria do seu autor, questões tão sérias como a da
justiça, da solidariedade, da liberdade, numa representação que nos remete para
um universo fabulístico, mas nem por isso menos assertivo e por essa mesma
razão um excelente ponto de partida para mais uma sessão deste nosso clube.
Terminando este nosso testemunho, e porque, como referimos, a
leitura e a escrita andam de mãos dadas, nada como partir de tantas questões
enunciadas para a produção de textos, operação que nos permite trocar de lugar
com os mestres e sermos nós os senhores do mundo das palavras que é o nosso mundo
e a maior das ferramentas que podemos usar para o construir e dominar.
Deixamos aqui, então, o produto criativo das alunas Joana
Silva (nº6 do 8º E) e Verónica Filipe (nº 27 do 9º C) e marcamos encontro para
a próxima 4ª feira. Até lá, divirtam-se com as palavras e usem-nas para, antes
de mais, serem felizes!
Já
Todos
mandam em mim:
os
meus pais, professores e
até
as palavras,
aquela
palavra odiosa: Já!!
Estou
no computador
e a
minha mãe diz:
-vai
pôr a mesa!
E eu
respondo:
-só
um minuto…
E lá
vem aquela horrível palavra: Já!!
(Para
mim essa palavra deixava de existir.)
Joana
Silva e Verónica Filipe